Entrevista com Marina Siqueira, Head de Estruturação na VERT
O mercado de investimentos no setor agro tem passado por mudanças significativas nos últimos anos. Um dos pontos de destaque é o rápido crescimento dos Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros), que têm alcançado volumes expressivos em um curto período de tempo. Marina Siqueira, Head de Estruturação na VERT e especialista em operações estruturadas para o Agronegócio, compartilha insights valiosos sobre essa tendência e suas implicações para o setor.
Marina destaca que os Fiagros têm se destacado ao superarem os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) em termos de taxa de crescimento de volume de recursos alocados. Enquanto os FIIs demoraram de 1993 até 2010 para atingirem R$ 8bi, os Fiagros atingiram este número em 2 anos. Com base em dados da ANBIMA, atualmente os Fiagros possuem aproximadamente 10 bilhões de reais alocados atualmente, mas segundo especialistas do mercado de capitais, esse número pode chegar a 40 ou 50 bilhões nos próximos anos.
Quando questionada sobre a preferência pelos Fiagros em relação aos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Marina explica que, dependendo da posição do originador,os CRAs podem possuir alguns desafios como ter o lastro no momento da integralização dos recursos e a comprovação da destinação dos recursos para produtor rural. Por outro lado, os Fiagros, apesar de ainda não possuírem uma regulamentação própria, oferecem três modalidades de investimento, sendo que em uma delas já há a possibilidade de listagem em bolsa com isenção tributária para pessoas físicas. Os Fiagros trouxeram mais flexibilidade quanto ao tipo de lastro (abrangem ativos da cadeia do agronegócio como um todo) e quanto ao momento de aquisição dos lastros (por enquanto seguem as regras das diferentes modalidades de fundo de investimento) Isso pode conferir aos Fiagros uma vantagem em termos de volume e pulverização dos recursos investidos.
Marina ressalta que os Fiagros têm impulsionado a demanda por CRAs, pois muitos investidores estão adquirindo esses certificados indiretamente por meio dos Fiagros. Ela menciona que antes era comum os CRAs serem direcionados diretamente para pessoas físicas, mas agora eles têm sido fortemente demandados por Fiagros. Essa mudança tem impulsionado o mercado de crédito no agronegócio, proporcionando uma nova perspectiva para o setor.
Marina destaca que o setor agro representa quase 30% do PIB brasileiro e possui uma demanda de crédito estimada em quase um trilhão de reais por ano. Ela ressalta que o agro tem apresentado crescimento constante e é um dos setores mais promissores da economia, mesmo em períodos de instabilidade econômica e indefinições políticas. O setor agro tem demonstrado resiliência e vem batendo recordes de produtividade, tornando-se um dos pioneiros na retomada do crédito.
"O agronegócio representa quase 30% do PIB do Brasil (...) Estamos falando de uma demanda de cerca de 800 bilhões de crédito por ano. E quando você considera a agricultura pecuária mais a agro indústria, chegamos a quase um trilhão de crédito por ano."
Sustentabilidade é um tema recorrente nas discussões sobre o setor agro, e Marina aborda esse aspecto em relação ao potencial de crescimento do mercado de capitais. Ela destaca que a sustentabilidade tem se tornado cada vez mais importante para os investidores, e os o mercado de capitais terá um papel fundamental nesse sentido.
Marina explica que já é consenso no mercado de capitais investir em projetos agrícolas que estejam em conformidade com os critérios socioambientais básicos, como práticas de preservação ambiental, respeito aos direitos trabalhistas e bem-estar animal.
Porém, há uma demanda grande dos investidores por projetos que vão além dos critérios básicos, mas que promovam uma agricultura de baixo carbono, com práticas agrícolas regenerativas, preservação e/ou restauração florestal e integração de atividades agrícolas (como a integração lavoura-pecuária, lavoura-floresta-pecuária, agroflorestas, entre outras). Essas práticas contribuem para a redução do impacto ambiental e para a promoção de uma agricultura mais eficiente e sustentável.
Isso significa que os investidores podem direcionar seus recursos para empreendimentos alinhados com esses princípios da sustentabilidade, contribuindo para um desenvolvimento mais equilibrado e responsável do setor agro. Atualmente, essa demanda por oportunidades ESG ainda não se traduz diretamente em taxas de juros significativamente mais baixas, mas vemos outros tipos de atrativos como prazos mais longos e flexibilização de garantias. A taxa de juros mais atrativa será possível com o desenvolvimento de estruturas de mercado de capitais de blended finance, que trazem investidores concessionais junto com o investidor tradicional.
Marina ressalta que a busca por investimentos mais sustentáveis no setor agro não apenas atende às demandas dos investidores, mas também reflete a necessidade de uma produção agrícola mais consciente e responsável. O setor agro desempenha um papel fundamental na garantia da segurança alimentar e na preservação dos recursos naturais, e o mercado de capitais, seja via CRAs e/ou Fiagros, tem o potencial de impulsionar essa transformação positiva.
O rápido crescimento do mercado de capitais via Fiagros tem impulsionado o setor agro, superando até mesmo a taxa de crescimento dos Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs). Os Fiagros oferecem uma nova forma de investimento no agronegócio, permitindo que os investidores participem do setor de forma pulverizada e alinhada com princípios de sustentabilidade.
Esses fundos têm impulsionado a demanda por Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), contribuindo para o desenvolvimento do mercado de crédito no setor agro.
Diante do potencial de crescimento do setor agro e da crescente busca por investimentos sustentáveis, os Fiagros representam uma oportunidade promissora tanto para investidores quanto para o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro.
Fontes de dados: ANBIMA
O Fundo de Investimento em Cadeia Agroindustrial, o Fiagro, teve um crescimento de 26% entre o número de investidores entre julho e agosto deste ano.